Num belo dia de sol, numa aldeia tranquila para os lados de Trás-os-Montes, apareceram dois meninos muito estranhos. Esses meninos eram realmente diferentes e um pouco assustadores para os habitantes daquela localidade, pois nunca tinham visto nada assim.
A menina era enorme, tinha cabelos loiros e lisos, dois grandes olhos azuis muito pestanudos, um pequeno nariz, umas faces rosadas, uma boca minúscula com lábios encarnados e duas grandes orelhas com brincos pendurados. Vestia roupas alegres e coloridas. Até aqui tudo parecia normal, mas o mais estranho é que esta menina tinha quatro braços bem compridos e magros.
O menino tinha um rosto muito redondo, pouco cabelo e “espetado”. Os seus olhos eram castanhos, tinha duas bocas e duas orelhas douradas. O seu pescoço era estreito e longo, os ombros eram muito direitos e tinha braços compridos e magros. As suas roupas eram coloridas e com bolinhas e usava uns sapatos tão grandes como os dos palhaços. Era um menino enorme que usava um capacete com vários insetos espetados no topo.
Apesar do seu aspeto esquisito, tratava-se de dois seres simpáticos e pacíficos. Por isso, conseguiram logo conquistar a confiança dos habitantes da aldeia.
Todos os dias de manhã, estes dois seres, o Martim e a Martinha, visitavam os seus novos amigos. Mal o galo cantava, o Martim ajudava os pastores a levar os seus rebanhos para a serra e a Martinha ficava com as mulheres a ajudá-las nas lides de casa. Como a população estava muito envelhecida e não havia crianças naquela aldeia, estas duas criaturas trouxeram muita alegria e uma nova vida a estas pessoas.
Agora, já se ouvia o riso alegre e contagiante que só as crianças sabem fazer, as pessoas tinham aprendido a rir novamente e a descobrir o valor da palavra companhia. Tudo parecia perfeito naquela povoação esquecida por todos. Os seus habitantes estavam tão felizes que nem se lembraram de perguntar de onde teriam vindo aquelas duas crianças tão maravilhosas, mas ao mesmo tempo tão estranhas. E… porque estariam elas ali? Não tarda, todos saberão o porquê da presença do Martim e da Martinha naquela aldeia.
Esse ano, em particular, a chuva não abundava em Trás-os-Montes. Trata-se de uma zona rural, que vivia da agricultura, das vinhas, do azeite e de umas hortas onde cresciam legumes e vegetais verdinhos e viçosos.
Os seus habitantes estavam a ficar cada vez mais preocupados com a falta de chuva. E, apesar dos dois novos habitantes da aldeia terem trazido alegria aos mais idosos, depressa voltava a angústia de ver o trabalho e sustento de um ano acabar com a ausência deste bem tão precioso, a chuva.
Os dois meninos aperceberam-se que algo estava errado e resolveram perguntar a que se devia o burburinho da aldeia que só falava em “NÃO CHOVE… NÃO CHOVE…”
À noite, um dos habitantes mais idosos explicou aos meninos os princípios básicos para o desenvolvimento das culturas.
Martim sorriu, e exclamou que tem a solução em cima da sua cabeça, no seu chapéu, que apesar de mostrar uns lindos insetos é capaz de fazer muitas coisas.
Será que o chapéu do Martim faz chuva? O chapéu do Martim não faz chuva mas tem poderes mágicos assim como os brincos da Martinha.
Depois dos aldeões se terem recolhido, Martim e Martinha reuniram-se secretamente no cimo do monte mais alto da aldeia com o objectivo de tentarem arranjar uma solução para salvar as colheitas.
Foi então que se fez luz. Martim e Martinha com os seus poderes provocaram um temporal tão grande que as nuvens rapidamente chocaram umas contra as outras e … começou a chover. As crianças abraçaram-se felizes.
De manhã bem cedinho, os habitantes da aldeia, ao ver que tinha chovido, deram pulos de contentamento, até que alguém interrompeu esta euforia e lembrou:
- Estais a saltar de alegria, mas falta aqui alguém!
Nesse momento, todas as pessoas da aldeia pararam, olharam umas para as outras e aperceberam-se que o Martim e a Martinha não estavam com eles. Imediatamente se organizaram em grupos e começaram a procurar por toda a aldeia. Procuraram, procuraram até que anoiteceu e nem sinal dos meninos. Uma tristeza muito grande caiu sobre a aldeia. Tinham chuva, mas não tinham os seus amiguinhos.
De repente… o senhor mais idoso da aldeia, mas também o mais sábio, reparou nas pegadas deixadas pelos dois meninos. Resolveu segui-las. As pegadas levaram-no até ao cimo do monte mais alto da aldeia.
Qual foi o seu espanto ao ver os seus grandes amigos desmaiados, sem forças, deitados no chão. Regressou imediatamente à aldeia e começou a gritar por ajuda:
- Acudam! Acudam! Encontrei o Martim e a Martinha no cimo do monte. Eles precisam urgentemente de ajuda!
Depressa apareceram os habitantes da aldeia e lá foram ao cimo do monte buscá-los. Como Martim e Martinha eram crianças muito grandes, foram necessários homens fortes para os trazer de volta. Já em casa, deitaram-nos nas suas camas e começaram a cuidar deles, com todo o carinho.
O senhor José que era o senhor mais idoso e mais sábio da aldeia disse:
-Temos de fazer uma rica, bela e poderosa sopa. Também conheço um xarope milagroso que os vai ajudar a recuperar. E deitaram mãos à obra.
A sopa continha todos os legumes cultivados pelos habitantes da aldeia. O xarope era feito de pétalas de rosa, margaridas, tulipas e dálias e uma boa colherada de mel real.
Aos poucos Martim e Martinha foram acordando e recuperando as suas forças. Mas a população estava ainda com muitas dúvidas.
- O que é que o Martim e a Martinha estariam a fazer no cimo do monte?
- Como é que a chuva apareceu de repente?
Todas estas dúvidas foram rapidamente desfeitas quando… “TROM…” um enorme clarão seguido de um estrondo ensurdecedor acordou Pedro, o “sonecas” lá da aldeia!
Afinal, tudo não passou de mais uma noite de sono, acompanhada de um belo sonho!
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